O Verbo e a Revelação de Deus: Uma Análise Teológica e Linguística
No princípio era aquele que é a Palavra. Ele estava com Deus, e era Deus. (João 1.1 NVI).
Introdução
No Evangelho de João, o prólogo é marcado pela profunda declaração: “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus” (João 1.1). Esta passagem, amplamente estudada, levanta questões teológicas e linguísticas fundamentais para compreender a identidade de Jesus Cristo. Neste artigo, exploramos o significado do termo “Verbo” (λόγος, logos), sua aplicação gramatical e sua implicação teológica, com foco em demonstrar que Jesus Cristo é o próprio Deus encarnado.
1. Por Que João Usou o Termo “Verbo”?
Para responder essa pergunta, é necessário conhecer o propósito do evangelho de João e sua mensagem central. Isso é o que faremos a seguir.
1.1. O propósito do evangelho de João
O evangelista João registra suas experiências com Jesus Cristo para um propósito claro e eterno:
Estes [sinais], porém, estão registrados para que vocês creiam que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo nele, tenham vida pelo poder do seu nome (João 20.31 NVT).
No início de seu evangelho, João descreve a chegada daquele que é o centro da história redentora, cujas origens são eternas, conforme profetizado:
Aquele cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade (Miqueias 5.2 ARA).
Segundo Boor (p. 29), o propósito [de João] é relatar sobre a maior grandeza que existe no mundo, sobre aquilo que é a única magnitude realmente grande e importante, Jesus Cristo […] O presente relato deverá mostrar à igreja crente em Jesus toda a “glória” de Jesus, para fortalecer, purificar e aprofundar sua fé.
A mensagem de Jesus, tão essencial para a humanidade, não pode ser silenciada. O apóstolo Paulo enfatiza a urgência do anúncio ininterrupto:
Mas como poderão invocá-lo se não crerem nele? E como crerão nele se jamais tiverem ouvido a seu respeito? E como ouvirão a seu respeito se ninguém lhes falar? (Romanos 10.14 NVT).
Dessa forma, João, inspirado pelo Espírito Santo, assegura que seus registros apontem para o Cristo eterno, garantindo que a fé dos leitores seja fortalecida, e a vida, conquistada pelo poder de seu nome.
1.2. A mensagem central: Jesus em sua essência é o foco
Seu objetivo [do evangelho segundo João] é mostrar em todo o seu escrito que os dons, os feitos e as atuações de Jesus não são o mais importante, mas sim o próprio Jesus em sua pessoa, em seu maravilhoso ser (Boor, p. 29).
Boor destaca uma perspectiva profundamente cristocêntrica do Evangelho de João, enfatizando que a essência da mensagem não está nos feitos de Jesus, mas em sua pessoa. Este ponto é fundamental porque redireciona o leitor para o propósito teológico do texto: Jesus não é apenas um realizador de milagres ou um exemplo de virtudes humanas, mas o próprio Filho de Deus, cuja identidade transcende suas ações.
Essa visão é consistente com o tema central do Evangelho de João, que continuamente chama atenção para quem Jesus é — o Logos eterno, a luz do mundo, o bom pastor — acima do que Ele faz. Ao focar na “maravilhosa pessoa de Jesus”, Boor nos convida a ir além de uma apreciação superficial dos sinais e maravilhas para um relacionamento profundo com Cristo em sua plenitude divina e humana.
2. Análise Teológica: O Verbo e a Doutrina Trinitária
Após análise de anos a fio, compreendi que todos os argumentos em torno das 'três Pessoas distintas' adentrou as igrejas, mentes e corações, graças aos textos separados de seu contexto. Uma vez que a ideia foi aceita entre os líderes católicos, quem questiona é tido como herege.
2.1. O debate sobre as ‘Pessoas distintas’ em Deus
Os teólogos que seguem a linha trinitária, confundem a distinção de naturezas na encarnação do Verbo, crendo haver 'Pessoas distintas' em Deus.
A causa maior do debate é justamente a tentativa de 'provar' a existência de três Pessoas em um Deus. Segundo eles, a primeira Pessoa, o Pai, teria enviado a segunda Pessoa, o Filho eterno, que encarnou para nos salvar. A Bíblia não fornece base para tal argumento, e isso veremos a seguir.
Mesmo a Reforma, conduzida pelo monge Martinho Lutero, não pôs em cheque a tradição trinitária, trazendo essa herança católica para os cristãos reformados.
No entanto, ao ensinar sobre a divindade de Jesus, os comentaristas trinitarianos aplicam afirmações da unicidade de Deus, doutrina que não é fruto de fórmulas e tradições, mas utiliza apenas o ensino bíblico puro.
2.2. O posicionamento da unicidade de Deus
O Deus único e indivisível é também, imutável. A verdade bíblica apresenta o esvaziamento do Verbo, fazendo-se semelhante aos homens e, aos que o receberam, aos que creem no seu nome, deu‑lhes a autoridade de se tornarem filhos de Deus (João 1.12 NVI). O Verbo eterno, divino, adquiriu a natureza humana, identificando-se perfeitamente com os filhos caídos de Adão.
2.3. Declarações de Calvino sobre a Deidade de Cristo
João Calvino, em suas exposições, afirma:
"Neste prólogo, o apóstolo declara a eterna Deidade de Cristo, para informar-nos que ele é o eterno Deus manifestado em carne" (1 Timóteo 3.16).
Calvino ressalta que o prólogo de João não deixa dúvidas sobre a plena divindade de Cristo, apresentando-O como o Deus eterno que se revelou ao mundo em forma humana. Essa interpretação convida os leitores a contemplar o Verbo como a mais perfeita expressão do Deus único, verdadeiro e indivisível.
Ele utiliza uma analogia esclarecedora para explicar a relação entre Deus e sua Palavra:
"Assim como no homem a linguagem é denominada ‘a expressão dos pensamentos’, não é fora de propósito aplicar isso a Deus e dizer que Ele nos é expresso por meio de Sua Palavra" (Calvino, p. 29-30).
Esta é uma metáfora acessível — a linguagem como expressão dos pensamentos — para ilustrar como Cristo revela Deus aos homens. Essa abordagem não só reforça a plena divindade de Cristo como também ajuda a compreender a ideia de que Ele é a manifestação visível do Deus invisível.
3. O Significado de “Verbo” no Grego Bíblico
A palavra grega λόγος (“logos”) possui uma ampla gama de significados, incluindo “palavra”, “raciocínio”, “discurso” e “razão”. No contexto de João 1:1, “logos” aponta para a revelação divina: Jesus Cristo é a expressão perfeita de Deus. Ele não apenas transmite a mensagem divina; Ele é a mensagem em sua plenitude.
3.1. Definição do termo λόγος (logos) na Bíblia
Analisando o significado do termo “Verbo” conforme o dicionário grego da Bíblia, podemos entender o que João tinha em mente, que mistério lhe foi revelado, quando escreveu sobre o nosso Senhor Jesus Cristo:
Strong (3056), define λόγος (logos) log'-os (de 3004); como algo dito (incluindo o pensamento); por implicação, um tópico (sujeito do discurso), também raciocínio (a faculdade mental) ou motivo; por extensão, um cálculo; especialmente, (com o artigo em João) a Expressão Divina (i.e. Cristo).
3.2. Sinônimos aplicados em João 1.1
Substituindo o termo por seus sinônimos, temos que:
No princípio era o Pensamento, e o Pensamento estava com Deus, e o Pensamento era Deus.
E o Raciocínio, o Discurso, o Motivo, a Causa, a Comunicação, a Intenção, a Boca (fig. Pessoa que se expressa através da fala, segundo Michaelis online), a Pregação, a Doutrina, a Fala era Deus.
Caro leitor, sua boca está em você e expressa quem você é. Por estes textos bíblicos a premissa é inegavelmente verdadeira que Deus realizou tudo sozinho. Aquele que criou os céus e a terra, que no princípio disse “haja luz”, na plenitude dos tempos, ele mesmo brilhou no nosso coração, para a iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Jesus Cristo (2Coríntios 4.6 NVI).
Toda a terra tema o Senhor; tremam diante dele todos os habitantes do mundo. Pois ele falou, e tudo se fez; ele ordenou, e tudo surgiu (Salmos 33.8,9 NVI).
Assim diz o Senhor, o seu redentor, que o formou no ventre: Eu sou o Senhor, que fiz todas as coisas, que sozinho estendi os céus, que espalhei a terra por mim mesmo (Isaías 44.24 NVI).
Outros sinônimos bíblicos incluem:
- Palavra (Salmo 33.6)
- Mandamento (João 14.15)
- Lei (Salmo 119.97)
Essas referências indicam que “Verbo” é a comunicação de Deus em ação, na criação, na redenção e na eternidade.
4. A Diferença Entre Verbo e Filho
Segundo a revelação bíblica, o Verbo em sua eternidade era Deus. A filiação divina faz referência à sua humanidade, quando o Verbo se fez carne. A diferença, portanto, está entre a eternidade e a humanidade, vistos a seguir.
4.1. O Verbo era Deus, não ‘Filho de Deus’
A afirmação é que o “Verbo era (gr. ἦν transliterado: ēn) Deus” e não “Filho de Deus”
Em João 1.14, “o Verbo se fez (gr. γίνομαι transliterado: gínomai) carne”. Não foi o Filho que se fez carne, mas sim, o Verbo, que era Deus e não Deus Filho.
O “Verbo era Deus” e não “Filho de Deus”
4.2. A falta de respaldo bíblico para a expressão ‘Deus Filho’
A expressão “Deus Filho” é amplamente utilizada na teologia e em discursos religiosos, mas, curiosamente, não aparece em nenhuma parte das Escrituras. O termo “Verbo” é usado para descrever a essência divina de Jesus (João 1.1) e “imagem do Deus invisível” (Colossenses 1.15) fala de sua natureza humana. Portanto, é fundamental que os cristãos baseiem suas convicções nas palavras das Escrituras, reconhecendo Jesus como a manifestação de Deus ao homem, enquanto evitam expressões que possam gerar confusão ou não estejam enraizadas no texto bíblico.
4.3. Refutando a tradução deturpada de João 1.1
Os seguidores da seita russellita tentaram distorcer a tradução de João 1.1, dizendo que o Verbo era [um deus]. Essa distorção não encontra respaldo na afirmação de Deus, no Antigo Testamento, como podemos ver em dois versículos:
Vede, agora, que eu, eu o sou, e mais nenhum deus comigo (Deuteronômio 32.39, ARC 4.ª Ed., 2009 SBB).
Vós sois as minhas testemunhas, diz o Senhor, e meu servo, a quem escolhi; para que o saibais, e me creiais, e entendais que eu sou o mesmo, e que antes de mim deus nenhum se formou, e depois de mim nenhum haverá (Isaías 43.10 ACF).
Não foi o Filho que se fez carne, mas sim, o Verbo, que era Deus e não Deus Filho.
Não havia “um deus” com Deus e também não havia Deus Filho com Deus Pai. Em Gênesis 1.3 Deus disse: haja luz. Em João 1.3 Todas as coisas foram feitas pelo “Verbo”, pelo “disse Deus”.
5. A Preposição Grega πρὸς (prós): “Com” ou “Em”?
No grego, palavras como πρὸς (prós) têm múltiplos significados que dependem do contexto. Por isso, a tradução adequada exige atenção ao sentido original do texto. Atualmente, temos materiais infindos para pesquisa, e você pode conferir as bases das ideias expostas nas referências deste artigo.
5.1. O significado no contexto de João 1.1
O Verbo estava “em Deus”. Essa interpretação está em harmonia com as palavras de Jesus:
“Saí do Pai e vim ao mundo; outra vez, deixo o mundo e vou para o Pai” (João 16.28).
Jesus não disse que saiu de “diante do Pai” nem que voltaria para “junto do Pai”. Em vez disso, Ele afirmou ter saído “do Pai” e que voltaria “para o Pai”. Isso reflete uma unidade essencial, e não apenas uma proximidade.
Um termo em particular deve depender do contexto, e não o contrário. Por exemplo, a palavra grega πρὸς (prós), traduzida por 'com' pode referir-se também a localização 'em': o Verbo estava 'em Deus'.
Por que esse detalhe faz a diferença? Porque Jesus Cristo não é uma personificação. É Deus verdadeiro. E existe apenas um Deus verdadeiro.
Traduzir 'pros' (Strong 4314, gr. πρὸς) como 'em', torna mais clara essa relação: o Verbo estava “em Deus”, assim como sua voz está “em” você — parte de quem você é, sem ser uma entidade separada. Isso reforça a unicidade de Deus:
“Eu, e mais nenhum deus comigo” (Deuteronômio 32.39).
O contexto de João 1.1 é o ato da criação: “No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gênesis 1.1). Deus, o Criador, agiu sozinho, sem intermediários.
Sua voz está em você, sem ser outra pessoa.
5.2. Jesus como Deus em manifestação, não uma pessoa distinta
O Verbo era Deus. No original em grego, a frase “o Verbo era Deus” segue uma regra gramatical que ajuda a entender o significado. O sujeito, “o Verbo” (gr. Λόγος — logos), tem um artigo definido, como “o”, que indica que ele é algo específico. Já “Deus” (gr. Θεὸς — Theós) não tem artigo, o que mostra que a frase não está dizendo que o Verbo é um Deus diferente, mas que ele, em essência, é Deus.
Isso significa que João está afirmando que o Verbo é Deus, sem sugerir que exista mais de um Deus. Essa interpretação é fundamental porque está em harmonia com a fé judaica, que acredita em um único Deus. Mesmo em um contexto onde as ideias gregas influenciavam o judaísmo, como em Éfeso, João deixa claro que ele não está quebrando a base do monoteísmo bíblico.
João não diz que o Verbo “se tornou” Deus, mas que o Verbo sempre foi Deus desde o princípio.
6. O Verbo se Fez Carne: A Manifestação de Deus
Jesus é Deus conosco (Mateus 1.23). Essa verdade, embora oculta aos sábios e entendidos, está revelada aos pequeninos, que em o Nome do Senhor Jesus Cristo, expulsam demônios, falam novas línguas, obtendo o testemunho alcançado apenas por quem olha para o autor e consumador da fé (Marcos 16.17,18; Hebreus 11.2; 12.2). Continuaremos nossa análise sobre a manifestação de Jesus, seguida de uma analogia e uma aplicação.
6.1. Jesus como a manifestação humana de Deus
Outra observação é que ninguém deu ordem ao Verbo. O Verbo se fez carne. Isso indica iniciativa própria.
A doutrina trinitária, que apresenta Deus como três pessoas distintas, entra em conflito com a clareza textual de João 1.1. Este versículo afirma a indivisibilidade de Deus, revelado plenamente em Jesus Cristo.
Exemplo bíblico: Isaías 9.6 chama o Messias de “Pai da Eternidade”, reafirmando que Jesus não é uma segunda pessoa, mas o próprio Deus em forma humana.
E então? Estamos negando o Filho? De modo nenhum! Apenas mostramos biblicamente, que Deus se fez carne, Deus se esvaziou por nós. Aquele homem Jesus que se entregou por nós, em sua forma submissa, foi chamado Filho, mas foi o próprio Deus único quem fez tudo isso. O Verbo não é distinto de Deus: o Verbo é Deus.
Deus não é homem, mas Jesus é a manifestação humana de Deus.
Deus é eterno, mas Jesus é a manifestação temporal de Deus.
Ninguém deu ordem ao Verbo. O Verbo se fez carne. Isso indica iniciativa própria.
6.2. Analogia prática: a unidade de voz, boca e palavra
Olhe-se no espelho. Veja sua boca. Comece a liberar palavras. Ouça sua própria voz.
Assim como sua boca, sua voz e sua palavra: não há distinção na divindade: tudo concorda num só. Isso foi revelado ao irmão João.
6.3. Aplicação Prática
Compreender que “o Verbo era Deus” transforma nossa perspectiva espiritual. Jesus Cristo não é apenas uma personificação divina; Ele é a plenitude de Deus habitando entre nós. Esta verdade nos convida a:
1. Cultivar um relacionamento profundo com Jesus, reconhecendo-o como o único Senhor e Salvador.
2. Proclamar a unidade de Deus em Cristo, combatendo interpretações que possam dividir sua essência.
3. Refletir a luz de Cristo em nossas vidas, sabendo que Ele é a expressão perfeita de Deus.
Conclusão
O Verbo é Deus. Esta declaração de João não apenas afirma a identidade divina de Jesus Cristo, mas também revela a natureza indivisível de Deus. Jesus é a manifestação visível do Deus invisível, e sua vida e obra refletem a plenitude do Ser divino. Que esta compreensão nos leve a adorá-lo com todo o coração e a proclamar a verdade de sua divindade ao mundo.
A vida está no Verbo. Jesus é o Verbo. Jesus é Deus. Adore a Jesus. Dirija-se a Jesus. Tua salvação, vida e paz está em Jesus.
Que o Verbo te abençoe. O Nome dele é Jesus!
Referências:
ARC. Bíblia Sagrada Almeida Revista e Corrigida 4.ª Ed., 2009 — SBB
Bíblia Online. https://www.bibliaonline.com.br/acf+nvi/jo/1
Boor, Werner de, 1899–1976. Evangelho de João I — 2ª Ed (Volume 1). Por Werner de Boor. ISBN-13: 978-6587285412. Compre na Amazon
Calvino, João, 1509–1564. O evangelho segundo João — Volume 1 (Série Comentários Bíblicos). Por João Calvino. ASIN: B08TPJ17SK. Compre na Amazon
Michaelis. Dicionário Online da Língua Portuguesa. https://michaelis.uol.com.br/
Strong, James. Strong's Greek Dictionary of the Bible (Dicionário de Strong) (Locais do Kindle 5089-5093). Miklal Software Solutions, Inc. Edição do Kindle.
YouVersion. https://www.bible.com/pt/bible/212/JHN.16.28-33.ARC
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